MIRAGE GT (1976 - 1981)


No período entre 1977 e 1981 foram montados, a partir das formas originais, 4 carros Lorena, mais uma carroceria, porém com o nome de "Mirage GT". É possível que tenham sido construídas mais uma ou duas carrocerias.


Depoimento de Helio Herbert Felisoni Junior

"Em 1969 tive o primeiro contato com uma Lorena GT.

Era um exemplar na cor Lilás, um carro muito baixo e estilo revolucionário para a época.

Era comum no inicio dos anos 70 ver um automóvel Lorena em locais como: Rick-Store na Faria Lima, na rua Augusta, Café Concerto (Ibirapuera) e sempre despertava em mim a vontade de comprar um exemplar.

Era muito difícil encontrar um para vender e quando aparecia o valor era muito alto, até que um dia sem querer localizei os moldes da carroceria em um pequeno galpão na região de Santana mais precisamente na Rua Voluntários da Pátria. O ano era 1976 (final) e me lembro até hoje do local abandonado, com muita poeira, uma carroceria quase pronta e outras duas para terminar, o molde completo porem, jazia em um canto todo amontoado.

Havia também um chassis já adaptado para montagem. Daí em diante não consegui mais dormir direito até fechar negocio com o proprietário das formas e da marca com suas respectivas notas fiscais (tudo legalizado na época) e através de uma parceria mudamos o material todo para uma oficina localizada na Rua Vergueiro junto ao trevo da Via Anchieta.

A mudança foi toda transportada em um Chevrolet ano 1950 escolar (foto(, e as partes maiores em um guincho "Boca de Sapo" (Chevrolet). Foram inúmeras viagens com material amarrado até o teto. Uma grande aventura.

A oficina onde foram montadas as quatro ultimas unidades completas, mais uma carroceria que foi perdida (ou surrupiada) chamava-se "Auto Mecânica Monza", de propriedade do amigo João Tate e do Pardal.

Era uma oficina organizada para a época e dispunha de toda a ferramentaria para execução do projeto, situada na  Rua Descampado, esquina com a Rua Taquarichim, onde permaneceu entre 1979 e 1981.

     Em 1977 a 1ª unidade começou a tomar forma. Um processo demorado e absolutamente artesanal.   Levamos

    quase um ano ate ter condições de colocar o primeiro automóvel no Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) para a vistoria e posterior homologação. Foram mais de seis meses fazendo modificações, exigidas pelos técnicos, e mais uma burocracia que exigiu mais de doze meses, enfim completamente inviável como produção comercial. Conseguimos emplacar o primeiro automóvel em 1979 dois anos após o termino do primeiro automóvel (os outros três foram emplacados em menor tempo).

Devido ao nome da empresa que se designava "Indústria Comercio Plásticos Reforçados Mirage", data de fundação 28/outubro/1975, os quatro automóveis que foram montados neste período eram denominados no documento como sendo "Mirage GT". O ultimo exemplar foi do ano de 1981.

As formas foram destruídas, pois houve um desentendimento entre o Jéferson (um dos sócios) e o João Tate, que levou ao fim mais uma tentativa de fabricar um carro no Brasil. O primeiro automóvel ficou comigo por alguns anos até que uma pessoa da cidade de Lucélia, dono de um hotel, mandou uma proposta irrecusável e nunca mais tive noticias desse exemplar.

Deixa saudades a época romântica em que os automóveis tinham muita personalidade.

Tenho consciência de ter colaborado (mesmo que modestamente) para o desenvolvimento da indústria automobilística nacional."


"Não tenho conhecimento de como as matrizes foram parar nas mãos do Jéferson “São Francisco”, pessoa que detinha na época a empresa “Plásticos Reforçados Mirage”, e não havia também brasão ou logomarca do veiculo (Mirage GT), não possuo mais nenhum outro material alem do enviado.

Com relação às saídas de ar inexistentes nesses veículos, foram feitos furos na parte traseira do carro, atrás da placa, e com isso possibilitou uma melhor circulação de ar, e o problema do super-aquecimento foi sanado - foi uma dica do Tony Bianco que fez isso em 1977 no Bianco.

Quanto às formas, ou o que restou delas, após terem sido quebradas podem sim ter desaparecido durante uma enchente, já que o Jéferson levou-as para sua casa, que se situa na Avenida Dr. Ricardo Jafet, região do Ipiranga, que até os dias de hoje sofre com inundações.

No início vieram alem das formas duas carrocerias já laminadas, as outras unidades foram fabricadas na “Auto Mecânica Monza”, situada na Rua Vergueiro junto a Via Anchieta. Foram feitas 4 “Mirage GT” (Lorenas) oficiais e uma outra não oficial como citei, e acredite essa terceira carroceria apareceu recentemente nas mãos de um amigo meu, que fez questão de me levar para vê-la, e por incrível que pareça não foi terminada até os dias de hoje (parece que agora vai pois está em boas mãos).

Quanto ao Jéferson tenho noticias de que ele faleceu em um acidente de carro. Outros colegas que colaboraram na montagem dos carros gostaria que fosse publicado seus nomes:

JOÃO TATE: proprietário da oficina

ZECA PARDAL (in memória): Sócio do João

MIRANDINHA (in memória): Laminador

PEBA: Mecânico

ALEMÃO: Mecânico

PEREIRA: Pintura

ZELÃO (in memória): Eletricista (O Zelão era irmão do João e ficou conhecido no ramo de moto peças).

RAFAEL CURCIO NETO: Proprietário do segundo carro produzido, hoje Diretor Presidente da ASTM parafusos e porcas.

JÉFERSON “SÃO FRANCISCO” (*)

É necessário citar também que o quarto veículo foi um modelo conversível, que não chegou a ser licenciado por nós. Não tenho conhecimento

 do destino deste automóvel, que era da cor dourada (Nota do site: a localização do carro hoje é conhecida).

Foram feitas pequenas modificações no automóvel em relação ao Lorena (descritas abaixo), alem da parte interna que continha console no teto com todos os comandos em teclas como nos aviões, além de som, antena elétrica, faróis de milha embutidos em baixo do papo dianteiro, carpete etc. O assoalho foi rebaixado em 4cm (no carro 01) por causa dos meus 1,90 metros de altura. O chassi na parte inferior e interior foi laminado em fibra. Copiei o Amaral Gurgel.

(*) Em tempo: O apelido “São Francisco” não era devido a  generosidade  com  os  animais  e

 sim a alusão à uma cachaça que era consumida a generosos goles  pelo  amigo  Jéferson,  do                                              Foto: José Antônio Turatti

qual tenho muitas saudades"

Helio Herbert Felisoni Junior (23/setembro/2008)

 

Helio Herbet nos tempos de outrora (esquerda)                Helio Herbert (2014)


Foram fabricados 5 Mirage GT, duas carrocerias que vieram junto com os moldes, mais dois carros, e mais um carro conversível:

- Mirage 01 - Branco Lotus
- Mirage 02 - Branco Lotus
- Mirage 03 - Vermelho Ferrari
- Mirage 04 - Dourado
- Mirage 05 - Branca - só carroceria

- Veja "carro D4.01"
- Veja "carro D4.02"
- Veja "carro 4.03"
- Veja "carro 4.01"

- "Mantêm a cor branca até os dia de hoje, está na casa de um amigo meu,

    não furou o painel para por relógios, e não foi terminada." - Helio Herbert

Além dos 5 carros Mirage citados, é possível que tenham sido construídas mais duas ou três carrocerias.


Diferenças entre o Lorena GT e o Mirage GT

LORENA GT

MIRAGE GT

FRENTE:

- Faróis dianteiros retangulares da linha Ford 1968/69

- Bojos dos faróis para o farol da linha Ford 1968/69

- Para-lamas alinhados com a carroceria, sem saliências

- Dobradiças do capo do Willys Interlagos

FRENTE:

- Faróis duplos redondos

- Bojos dos faróis menores, para os faróis duplos da linha VW

- Para-lamas com "bolhas", como os traseiros

- Dobradiças do capo traseiro do Puma

  Obs: o para-lamas dianteiro direito, é mais "para tras" que o

           esquerdo

TRASEIRA:

- parte traseira da tampa do motor mais baixa que os Mirage,

  com as laterais retas

- sinaleiras dos Ford 1954, aplicadas à carroceria

- saída única central de escapamento

- placa na parte superior da traseira

- dobradiças da tampa do Willys Dauphine/Gordini

TRASEIRA:

- parte traseira da tampa do motor mais alta que os Lorena,

  com as laterais em angulo

- sinaleiras do Opala, em rebaixos na carroceria

- duas saídas para o escapamento

- placa na parte inferior da carroceria, com furos

- dobradiças da tampa do capo traseiro do Puma

LATERAL:

- trincos das portas do Volkswagen 1300

- vidros das portas em peça única, descendo acompanhando

  a coluna "A"

LATERAL:

- trincos das portas em botão

- vidros das portas em duas partes, descendo retos

CARROCERIA:

- Para-lamas dianteiros alinhados com a carroceria, sem

  saliências

- parte traseira da tampa do motor mais baixa que os Mirage,

  com as laterais retas

- apenas furos para aplicação das sinaleiras traseiras

- rebaixo para placa na parte superior da traseira

- saída única central de escapamento

- carroceria atrás dos bancos com rebaixos

- painel alto, com 14 cm para os relógios, e sem aba, apenas

  um pequeno ressalto na parte superior

CARROCERIA:

- Para-lamas dianteiros com "bolhas", como os traseiros

 

- parte traseira da tampa do motor mais alta que os Lorena,

  com as laterais em angulo

- rebaixo na carroceria para aplicação das sinaleiras traseiras

- rebaixo para placa na parte inferior da traseira, com furos

- duas saídas para o escapamento

- carroceria atrás dos bancos reta

- painel baixo, com 12 cm para os relógios, com aba de

  aproximadamente 8 cm.

MECÂNICA:

- chassis da linha Volkswagen sedan anterior a 1970, bitolas

  estreitas, rodas 5 furos

MECÂNICA:

- chassis da linha Volkswagen sedan posterior a 1970, bitolas

   largas, rodas 4 furos


Mirages conhecidos

São conhecidos hoje três carros, o conversível mais dois fechados.

- Carro 4.01 - Mirage 04 - conversível.

- Carro 4.02 - Não identificado. Foi montado em 2008/2009 a partir de uma carroceria que nunca havia sido montada.

                                                     Provavelmente é uma sexta carroceria.

- Carro 4.03 - Não identificado. Pode ser o carro 01, 02, 03, ou alguma outra carroceria.


       Montagem dos "Mirage GT"

    

 

         

 

         

 

 Mirage nº 1 e 2 sendo montados.                                       Mirage nº 1 sendo montado.

 Da esquerda para direita:                                                    Da esquerda para direita:

 - Jeferson, Zeca, Pardal e Ferrugem (garoto que era       - João Tate, Pereira, Vagner, Alemão, Zeca Pardal, Peba.

    aprendiz na oficina (naquela época podia.......)


Mirage GT Nº 01

Localização atual desconhecida

    

    

 

    


Fotos do "Mirage GT" Nº 01, recebidas do Hélio Herbert em 15/11/2008

    

 

    

 

    

 

Todas as fotos acima pertencem ao acervo de Helio Herbert Felisoni Junior


As principais diferenças deste "Mirage" em relação ao "Lorena GT", que pudemos observar são:

O Mirage GT 01 foi montado a partir de um SP-2, motor com 1700cc, portanto com rodas de 4 furos;

O carro 01 possui o assoalho rebaixado em 4 centímetros.


Mirage GT Nº 02

Localização atual desconhecida

" Estive conversando com o Rafael Curcio Neto, amigo de longa data, e também construtor do Mirage 02 e depois de muita procura ele achou algumas fotos inéditas do carro nº 02. Como pode ver o carro é muito parecido com o nº 1, pois eu e o Rafael por muito tempo sempre utilizamos o mesmo modelo de carros e se possível até a mesma cor. A base do Mirage nº 2 foi um TL.em bom estado de conservação." Hélio Herbert - Jan/2010

Veja página "Carro D4.02"


Mirage GT Nº 03 (provávelmente)

Localização atual desconhecida

Depoimento de Carlos Alberto

Meu irmão possuiu um Mirage GT. A historia  é longa. Ele comprou este carro entre 1979 e 1980, motor 1600cc, cor verde e "sem placa"! Lembro dele chegando em casa dizendo que comprou um carro que nem bem sabia do que se tratava, que no documento estava escrito "MIRAGE GT" mas que o cara que o vendeu dizia ser uma "LORENA GT". O Documento original foi expedido na cidade de Santos - SP, talvez isso ajude na origem do carro.

 O Carro tinha detalhes muito interessantes, como vidros nas portas em "acrílico", de correr (Como nos Gurgel BR 800), assentos extremamente baixos (meu irmão sofria pra ver alguma coisa lá de dentro), pneus Pirelli CN36 super largos e rodas muito bonitas para a época. O carro era verde escuro, pintura muito bonita e que chamava bastante a atenção. Suas portas tinham formato asa de gaivota, com um recorte sobre o teto, mas abriam de forma tradicional, quatro faróis e lanternas traseiras redondas, de Opala. Para o licenciamento do carro meu irmão foi obrigado a fazer um trabalho em fibra nos pára-lamas dianteiros, pois os pneus ficavam quase 3 dedos para fora do carro, e no dia da vistoria colocou um volante de Fusca e um $$$$ embaixo dos documentos para liberar a criança.

Detalhe: Nunca colocou a placa na dianteira do carro porque não havia como fixa-la. Infelizmente na época meu irmão passou por dificuldades financeiras e precisava vender o carro. E quem queria comprar aquilo na época?? Fomos várias vezes a Feira do Anhembi, todo mundo babava mas ninguém comprava. Uma vez na feira um rapaz ofereceu um Jipe (esta se o FG souber ele manda matar meu irmão) e fomos ver. Era um Candango!! Meu irmão olhou e falou:

- Outra m.... que vou fazer com isso aí depois??

Bom, no final, triste é claro, meu irmão trocou a Lorena GT por uma .... Yamaha RX 125, marrom, horrível!!

É bem possível que meu irmão ainda tenha alguma foto desta época perdida em algum lugar. Vou falar com ele e tentar levantar. Hoje ele sabe o que passou nas mãos dele e foi embora, sabe da história da Lorena e Mirage GT,  já mostrei a ele na internet, ele fica de boca aberta lembrando que teve um pequeno tesouro na mãos. Na época mesmo, logo após vender, começamos a notar algumas Lorenas rodando. Lembro bem de uma vermelha, muito bem conservada e de uma branca, que parecia muito com um Corvette. Depois foram todas sumindo.

Espero ter-lo ajudado na sua busca por Lorenas e Mirages. (Carlos Alberto, 25/fev/2009)

Comentário de Hélio Herbert: "Certamente os carros foram modificados e receberam outra pintura,essa pode ser o carro numero 03 pois não foi feita a documentação conosco, tem tudo para ser ela a numero 03."


Mirage GT Nº 04 (conversível)

 

Nota do site: Foi fabricado apenas um "Lorena" conversível, na verdade um "Mirage GT".

                        Dos cinco Mirage GT fabricados um foi feito conversível, e originalmente este carro teria a cor dourada.


Depoimento do proprietário atual:

"O meu Lorena é ano 1978, e tem atualmente pintura branca. Tem armação da capota (parcial). Adquiri ele em São Paulo, na zona norte. Todas as dobradiças são do Puma, tem 4 lanternas traseiras do Opala, a tampa traseira é levemente levantada. O parabrisas tem friso cromado, os faróis dianteiros parecem do "Zé do caixão",ou TL, faróis duplos, protegidos por uma grade de tela. Não tem maçaneta nas portas. O parachoques dianteiro parece com o Puma moderno, (tipo borrachão).

Estive hoje verificando detalhes, e a cor que esta debaixo do branco é realmente dourado, as portas tem corte diferente do Lorena, este possui recorte vertical, a tampa do motor fecha em angulo.

No documento ele é ano 1978, modelo 1979, consta Mon/Lorena GT Sport, e ainda é placa amarela".

Veja página "Carro 4.01"


Mirage GT Nº 05

Depoimento de Hélio Herbert:

Mirage 05 Branca - "Mantêm a cor branca até os dia de hoje, está na casa de um amigo meu, não furou o painel para por relógios, não foi terminada e eu estou louco para comprar o brinquedo dele. Tá difícil...Ele gosta da danada..." (Hélio Herbert, 27/fev/2009


Mirage GT Nº ??

Indiscutivelmente este carro trata-se de um Mirage, pelos recortes das portas, bagageiro inclinado e pela traseira do carro. Não identificamos porém que carro seria. Note que os para-lamas dianteiros não são os abaulados, como os Mirage, mas lisos como os das Lorena. Acreditamos ser uma das duas carrocerias Lorena adquiridas com os moldes, porém com modificações para Mirage.

Veja página "Carros 4.03"


Mirage GT Nº ??

Esta carroceria inicialmente foi apresentada como um "Lorena GT, 2a geração". Após algumas observações e contato com o Helio Herbert, foi identificada finalmente como sendo uma carroceria "Mirage".

As características que a identificam como um "Mirage são: para-lamas dianteiros abaulados, e na traseira as duas saídas de escapamento, posição da placa, e recorte do capo traseiro.

Esta carroceria, até 2008 nunca foi montada como carro, estando totalmente original, como quando saiu da forma. Segundo Helio Herbert, poderia, além das 2 carrocerias vindas junto com as matrizes quando da aquisição das formas, e das três carrocerias Mirage construídas, terem sido fabricadas mais uma ou duas carrocerias.

Veja página "Carros 04.2"


Registro na "Junta Comercial do Estado de São Paulo", em 2015

Industria e Comercio de Plásticos Reforçados Mirage S. A.

NIRE - 35205487717


Agradecemos ao Felipe Nicoliello (http://www.pumaclassic.com.br/) pela pesquisa sobre a história dos "Mirage GT", e por ter possibilitado o contato com o Hélio Herbert.


* * *